terça-feira, 28 de agosto de 2012

A aceitação social do aborto consiste no máximo desprezo pela vida humana em toda história conhecida


Discípulo de José Ortega y Gasset, Julian Marías foi responsável por introduzir milhares de jovens e adultos no mundo da filosofia, versando sobre assuntos complexos com brilhante profundidade e simplicidade. Neste artigo publicado em 1983 na revista Cuenta y Razón, Marías lida com a questão social que, de todas, considerava a mais grave: a aceitação do aborto voluntário.




A criança não nascida ainda é uma realidade vindoura, que chegará se não a pararmos, se não a matarmos no caminho. Mas se investigarmos bem as coisas, isso não é exclusivo da criança antes do nascimento: o homem é sempre uma realidade vindoura, que vai se fazendo e realizando, alguém sempre inconcluso, um projeto inacabado, um argumento que tende a uma solução.

E se dissermos que o feto não é um “quem” porque não tem uma vida “pessoal”, então teríamos que dizer o mesmo da criança já nascida durante muitos meses (e do homem durante o sono profundo, da anestesia, da arteriosclerose avançada, da extrema sensibilidade, sem dizer do estado de coma).


Às vezes lançam mão de uma expressão de refinada hipocrisia para denominar o aborto provocado; dizem que é a “interrupção da gravidez”. Os partidários da pena de morte teriam suas dificuldades resolvidas: para que falar de tal pena, de tal morte? A forca ou o garrote podem chamar-se “interrupção da respiração” (e basta um par de minutos); já não há mais problema. Quando provoca-se o aborto ou enforca-se alguém, não se interrompe a gravidez ou a respiração; em ambos os casos mata-se alguém.
E, claro, é uma hipocrisia ainda maior considerar que há diferença em que lugar do caminho se encontra a criança, a que distância em semanas ou meses dessa etapa da vida que se chama nascimento será surpreendida pela morte.

[…] Por isso me parece que a aceitação social do aborto é, sem exceção, o que de mais grave tem acontecido neste século que vai chegando ao fim.

Um comentário:

  1. Nossa, ótimo argumento!

    Posso fazer referência no meu blog?

    Fiquem com Deus

    http://mulherrcrista.blogspot.com.br/

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